sexta-feira, 2 de julho de 2010

Por que o Brasil caiu fora da Copa da África do Sul?

Toda vez que a seleção brasileira é eliminada de uma Copa do Mundo, muitos torcedores mal esperam o juiz apitar o fim da partida e já começam a procurar os culpados pela "tragédia" (vamos combinar que sair de um torneio pela porta dos fundos não é o fim do mundo). Não foi diferente ontem, quando os nossos representantes prometeram tirar suco da Laranja Mecânica, mas foram descascados por Sneijder e companhia. Sobrou até para Mick Jagger, intitulado o pé-frio da Copa só porque EUA e Inglaterra tombaram nas oitavas justamente quando eram apoiados pelo rockstar inglês. Crenças à parte, o fato é que uma conjuntura de fatores pode explicar melhor o que aconteceu com uma equipe que, sob o comando do agora ex-técnico Dunga, fracassou de forma dramática embora tivesse condições técnicas e táticas de apanhar a taça na África do Sul:

1) Banco sem boas opções
A equipe titular estava bem montada, porém a reserva ficou devendo em sua composição. Em nome do princípio de compromisso com a Seleção, Dunga deu preferência a atletas contestados e/ou em má fase em seus respectivos clubes como Julio Baptista, Josué e Kléberson. Há quem defenda que o ex-capitão do escrete canarinho deveria ter convocado veteranos como Roberto Carlos e Ronaldinho Gaúcho, bem como as revelações Ganso e Neymar, mas discordo frontalmente de tais propostas. O Roberto Carlos de hoje nem lembra o Roberto Carlos dos tempos do tetra, Ronaldinho Gaúcho retomou o auge técnico tarde demais e os meninos da Vila (ainda) não têm experiência em competições internacionais.

2) Raiva contra a imprensa
Na preparação antes e durante a Copa da África do Sul, Dunga acertou ao proibir uma bajulação jornalística em torno dos atletas semelhante à vista em 2006 e tratar todos os veículos de comunicação em igualdade de condições, sem privilégios especiais. Porém, o treinador errou feio quando perdeu mais tempo destilando sua raiva na imprensa em geral - como se todos os jornalistas estivessem contra ele (santa paranoia, Batman!) - do que estudando o plantel à procura de possíveis falhas técnicas e táticas que poderiam corrigidas a tempo. Agindo desse jeito, ele passou a todo mundo a impressão de ser um tanto radical, antipático, temperamental e arrogante.

3) Descontrole emocional
Um jogador de futebol precisa se preparar fisica e técnicamente por quatro anos para disputar uma Copa do Mundo. Para sair do torneio pela porta dos fundos, basta perder a cabeça - exatamente o que não poderia ter ocorrido aos jogadores brasileiros no jogo contra a Holanda, mas aconteceu. Apesar de ter aberto o placar, Robinho escolheu uma péssima hora para bancar o valentão e sumiu no 2º tempo. Felipe Melo, que deu um belo passe para o jogador do Santos marcar o gol ainda no 1º tempo, agiu pior na etapa complementar: meteu o pé em Robben e saiu de cena com o cartão vermelho. É verdade que a arbitragem não ajudou muito, especialmente quando engolia as encenações dos holandeses em campo, mas isso não justifica o desequilíbrio emocional. A Seleção abriu mão do foco quando mais precisava dele e pagou caro.

4) Mundos paralelos
Embora tivesse a boa intenção de evitar o clima de total libertinagem visto quatro anos atrás, Dunga exagerou na dose. Manteve os seus comandados absolutamente longe de tudo e de todos. Os torcedores deixarão a África sem uma única foto ou autógrafo dos ídolos, que por sua vez sequer poderiam trazer familiares à concentração. Acredita-se que tanto tempo de isolamento contribuiu para a desesruturação emocional dos jogadores.

5) Confiança demais em um atleta
Até estrear nesta Copa, a criatividade das jogadas brasileiras se devia, em grande parte, às boas atuações de Kaká. Só que o craque do Real Madrid chegou à África do Sul longe da condição física ideal. Resultado: o cara não jogou 100% neste Mundial, embora tenha prestado boas assistências para alguns gols da Seleção, e sai da competição sem um único tento em solo africano.

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