terça-feira, 16 de setembro de 2014

[CINEMA] Lucy / O Doador de Memórias

LUCY (LUCY)

Dirigido por Luc Besson, Lucy vale o ingresso mais pela intensa atuação de Scarlett Johansson, que dá vida à personagem-título, e efeitos visuais do que pelo enredo, baseado no famoso mito do uso de 10% do cérebro, já devidamente refutado pela realidade (só para ilustrar: até quando dormimos o órgão permanece 100% ativo!). O filme narra as desventuras de Lucy, uma turista americana obrigada por um chefão do tráfico em Taiwan a transportar no abdômen uma droga sintética chamada CPH4. No cativeiro, um chute na barriga da futura heroína explode a bolsa, liberando uma enorme quantidade da substância, que confere à moça uma série de habilidades sobre-humanas, a começar pela telepatia. Após se livrar rapidamente dos captores, Lucy rapidamente contata o cientista Samuel Norman (Morgan Freeman) na esperança de que ele possa salvar sua vida.
Se você espera ver a protagonista usando os superpoderes a torto e a direito, como se nada no Universo fosse capaz de detê-la, melhor nem gastar míseros 5% da massa cinzenta para isso: o longa foca mais na ficção científica - com direito a uma baita discussão sobre espaço-tempo - que na ação. No máximo, contente-se com policiais desmaiados e mafiosos levitados apenas com a força do pensamento.

Nota: 7,5


O DOADOR DE MEMÓRIAS (THE GIVER)

À primeira vista, apenas mais um filme baseado em best-seller e protagonizado por um adolescente que resolve contestar um regime totalitário. Com base nessa premissa, a adaptação cinematográfica do romance de Lois Lowry não consegue fugir da comparação com títulos do naipe de Jogos Vorazes e Divergente, mas até que não soa tão adolescentoide demasiadamente juvenil quanto os congêneres. O Doador de Memórias se passa em um futuro distante no qual as pessoas, organizadas em comunidades, vivem sem qualquer lembrança do passado e com todas as emoções suprimidas, de forma que não corram o risco de passar novamente por todo tipo de sofrimento prévio (guerra, racismo, etc.). Um desses afortunados, Jonas (Brenton Thwaites), é proclamado Recebedor de Memórias, com a atribuição de armazenar todas as memórias, boas e ruins, anteriores ao surgimento de sua comunidade. Treinado por um antecessor, denominado Doador (Jeff Bridges), o rapaz percebe aos poucos que o mundo aparentemente perfeito esconde uma terrível distopia capitaneada pela Anciã-Chefe (Meryl Streep) e passa a questionar tudo o que vivenciou até então.
Embora não seja tão empolgante em termos de ação ou romance, o novo trabalho de Phillip Noyce ganha pontos na atuação dos intérpretes, nas cenas bem construídas e na abertura da discussão filosófica sobre o papel do Estado em uma sociedade, só que o diretor erra a mão quanto à superficialidade com que retrata o choque de visões de mundo. Em uma cena, por exemplo, a Anciã-Chefe se limita a afirmar que "se os humanos puderem escolher, farão as escolhas erradas". E a parte final se encarrega de abaixar a crista de quem esperava um desfecho à altura da trama em si. O filme não chega a ser ruim como um todo, porém o tema central - a intromissão do Estado na vida íntima dos cidadãos - merecia ser melhor abordado.

Nota: 7,0