quarta-feira, 30 de abril de 2014

Uma banana aos oportunistas de plantão

Já deveria ser suficiente Daniel Alves ter saboreado uma banana atirada em sua direção por um torcedor do Villarreal. Uma resposta simples, irônica e inteligente ao racismo, ainda muito presente em todos os cantos do planeta bola. Como disse o próprio atleta, "temos que rir desses retardados". Mas é claro que um episódio desses não poderia passar batido nas redes sociais. O que tinha de usuário - de anônimos a celebridades - postando fotos com a bendita fruta sob o pretexto de apoiar a atitude do lateral-direito do Barcelona e da Seleção não caberia num picadeiro. Não me admira que a maioria dos internautas tenha se manifestado dessa forma com a clara intenção de posar de "antenado na luta contra o racismo". Afinal, ataques à honra alheia motivados pela cor da pele acontecem todos os dias e não vejo esses antirracistas de ocasião postarem uma mísera selfie com os dizeres "100% todas as cores" no Instagram. Quem deu a cara à tapa para defender, por exemplo, o árbitro Márcio Chagas da Silva, que recentemente abandonou a profissão após ser humilhado por torcedores durante uma partida do Campeonato Gaúcho, com direito a bananas enfeitando o escapamento do carro? Coitado do Daniel Alves se fosse um desconhecido atuando pro algum clube da 2ª divisão do futebol hispânico...
Enganou-se quem pensava que o mico virtual ficaria restrito à hashtag #somostodosmacacos, criada por uma agência publicitária e divulgada pelo atacante Neymar, que convocou colegas de profissão e fãs a abraçarem a tal campanha. O apresentador Luciano Huck fez o favor de completar a macacada geral ao lançar uma camisa alusiva ao tema que poderia ser adquirida por quase 70 reais. Puro oportunismo disfarçado de protesto contra ofensas raciais. Os pseudoengajados que tratem de baixar a bola: tão antigo quanto a própria humanidade, o racismo não dá sinais de que acabará de uma hora para outra, ainda mais com pirotecnia virtual. Quem realmente deseja uma convivência mais harmoniosa entre as diferentes etnias não precisa pagar esse King Kong todo. Respeitar a cor da pele alheia já está de bom tamanho e todo mundo sai ganhando.