sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Bahia, a terra da legislação de duplo sentido

No último domingo, o Fantástico, dominical da Rede Globo, exibiu uma reportagem sobre um projeto de lei, de autoria da deputada estadual Luiza Maia (PT-BA), que pretende proibir o governo estadual da Bahia de contratar, para eventos patrocinados pelo poder público local, bandas de axé e pagode que cantem músicas de duplo sentido - algo do naipe "Foge, foge, Mulher Maravilha", "Me dá a patinha" e "A perereca pisca-pisca".



Apesar de bem intencionada, uma vez que ninguém é obrigado a escutar as tranqueiras do momento, a proposta da parlamentar não faria o menor sentido se colocada em prática. Para começar, a Assembleia Legislativa baiana desperdiça tempo e energia em uma discussão desnecessária - o gosto musical (duvidoso) da população - quando deveria se preocupar com assuntos mais importantes como saúde, educação e segurança. Ressalte-se também que o pretexto de que "as músicas de duplo sentido estariam ferindo a dignidade feminina" não se sustenta pois os shows de bandas como Psirico, O Troco e Black Style costumam atrair muitas mulheres, que pouco se importam com o significado das letras cantadas. É curioso registrar que, vinte anos atrás, os baianos (menos eu, é claro!) requebravam ao som do É o Tchan - e nenhum integrante do grupo teve problemas judiciais por conta do erotismo dos "Segura o Tchan" da vida...

4 comentários:

  1. Eu vejo que se o governo contrata bandas que tocam este tipo de música, estaria apoiando e incentivando as mesmas.
    Não seria relacionado ao gosto da população, proibindo-a de ouvir algum gênero musical, mas relacionado ao governo não incentivar quem faz essas músicas e não recomendá-las ao povo.
    Isso, pra mim, é válido.

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  2. O the cara,

    O problema central não é o poder público contratar ou recomendar essas bandas, mas o fato de uma deputada estadual gastar mais tempo com algo relativamente banal do que com questões que realmente importem à população, como educação e saúde, por exemplo.

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  3. Concordo com você...
    Se houvesse investimento sério em educação e estivéssemos colhendo os frutos dele, certamente não teria tantas bandas de qualidade e pessoas que gostassem delas. E a gente não estaria discutindo isso.
    Mas, como hoje em dia existem inúmeros remendos (discordo da maioria deles) na tentativa de melhorar o que está deficiente, este seria um remendo aceitável.
    As bandas se pronunciaram da mesma forma que você: "o poder público deveria gastar mais tempo em coisas mais importantes". Isso, claro, é verdade.
    Só que essas bandas também deveriam se preocupar em melhorar algo e não ajudar a piorar as coisas. O que elas querem mesmo é ganhar dinheiro.

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  4. "Mas, como hoje em dia existem inúmeros remendos (discordo da maioria deles) na tentativa de melhorar o que está deficiente, este seria um remendo aceitável."

    Talvez. Existe uma boa intenção em impedir, com toda a razão, que o poder público invista em bandas que tocam música de qualidade duvidosa. Só que, nas mãos de gestores despreparados p/ separar os bons dos maus trabalhos musicais, isso poderia descambar p/ a censura geral, como já ocorreu com algumas excelentes músicas de Chico Buarque na época da ditadura. Por isso, acho muito perigoso que o Estado se ocupe em decidir o que a população pode ou não ouvir. Ainda prefiro que os próprios cidadãos pressionem os governantes a não dar espaço p/ essas bandas de pagode-pornô em eventos oficiais.

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