segunda-feira, 31 de maio de 2010

Brasil na Copa: nacionalismo besta

Não faz muito tempo, li um texto de Marcelo Miggliaccio, do blog Rio Acima, sobre o ufanismo brasileiro em torno de uma Copa do Mundo. Faço das palavras dele as minhas e agora me dou o direito de estendê-las para criticar essa terrível mania nacional.
A cada quatro anos, mais especificamente no início de junho, a absoluta maioria dos cidadãos brasileiros para tudo o que estiver fazendo e começa a enfeitar a sala com bandeirinhas e (se houver espaço de sobra) bandeironas do país, pintar a cara de verde e amarelo, comprar toda sorte de apetrechos - cornetas (ou, africanamente se falando, vuvuzelas), perucas, tambores, buzinhas, serpentinas, camisas oficiais (ou nem tanto, :D), óculos, chapeus, etc.  - com as cores nacionais, providenciar um home theater para acompanhar os jogos da equipe tupiniquim e assim por diante. Esse nacionalismo parece ser provocado por algum tipo de vírus que permanece em animação suspensa (vocês conhecem alguém que deixa uma bandeira do Brasil pendurada na sala ou no telhado? eu não!) até o momento mais propício - um torneio de futebol quadrienal no período junino. Aí é um tal de sentimento patriótico para cima e para baixo, que extasia a mente dos torcedores até o fim da participação brasileira (bem ou mal sucedida) na Copa, quando toda a adoração à pátria vai pro saco evapora de vez e o pessoal volta à mesma rotina de sempre.
Algo contra a Copa do Mundo e a Seleção? Não propriamente. Gosto de assistir a jogos de futebol e sempre torço para o time do Brasil (desde que a equipe se leve a sério,  of course) nas competições de que participa. O problema é que muita gente leva o torneio muito a sério, como se o troféu de campeão fosse resolver todas as mazelas do nosso país. A Copa é tratada como uma questão de honra, orgulho ou, pasmem, segurança nacional - principalmente dado o ufanismo perpetrado e incentivado pelas emissoras e demais veículos de comunicação. Se o escrete canarinho leva a taça, o público exalta os atletas, solta fogos de artifício e estufa o peito, assumindo para si uma conquista da qual nunca fez parte. Caso contrário, o técnico e os jogadores são responsabilizados pelo fracasso e uma incontável legião de torcedores sai chorando pelas ruas, humilhando-se por conta de um insucesso que nunca sofreu.
Se é tão importante glorificar a pátria durante uma competição internacional (seja a Copa do Mundo de futebol, as Olimpíadas ou qualquer outro evento congênere) como propagandeia a mídia, por que ninguém sai mais às ruas com a cara pintada de verde e amarelo para exigir a cassação de políticos corruptos? Parece tão bonito escrever uma mensagem de apoio à Seleção em um pedaço de cartolina e esfregá-la na lente da primeira câmera que vier pela frente, mas quem se lembra de redigir um ofício à prefeitura de sua cidade para solicitar o reparo dos postes da rua onde mora? Não podemos nos esquecer dos jingles sobre a Copa que todo mundo sabe de cor, mas dá para contar nos dedos calcular rapidamente o percentual daqueles que têm o Hino Nacional na ponta da língua. Ao contrário do que as emissoras de TV mostram ao público, patriotismo não é ficar agitando a bandeira do Brasil feito um retardado com exagerada empolgação enquanto a bola rola nos estádios e, findo o torneio de futebol, jogá-la de volta no mesmo canto de sempre, de onde não sairá nos próximos 4 anos. Quem  é patriota mesmo trabalha, paga impostos, obedece à lei e faz alguma coisa para melhorar a vida no país, em vez de gritar pelos atletas compatriotas somente em época de Copa do Mundo.

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